Amadorismo e falta de planejamento
É notório o abismo que existe entre os licenciantes de animes e os de
desenhos animados ocidentais, americanos em sua maioria. Enquanto o
primeiro apenas oferece suas atrações, o segundo cria uma enorme
estratégia de lançamento e já prepara a venda de produtos relacionados,
como cadernos e brinquedos.
Não existe coordenação, e um excelente exemplo disso é One Piece. Enquanto a Panini tem ensinado as outras editoras como se deve lançar um mangá, a versão animada da obra de Eiichiro Oda
não teve o mesmo tratamento. É tão difícil assim fazer uma estratégia
para lançar um produto X ao mesmo tempo em duas mídias diferentes?
Os animes são uma via para trazer o grande público aos mangás, que aumentam em vendas por conta da exposição na TV. É impossível conquistar leitores fora do mundinho otaku sem isso.
Em contrapartida, a Disney em breve estará colocando no mercado o licenciamento da animação Ultimate Spider-Man.
Logo de cara se trata de um personagem que faz parte da cultura pop,
possui quadrinhos nas bancas regularmente, vai ter um novo filme nos
cinemas e tem os mais diversos brinquedos nas lojas.
Será que os canais de TV são realmente os grandes vilões e não querem comprar animes simplesmente por birra? Parece que não.
Todo anime é shōnen e violento
Também não podemos culpar as empresas por não quererem patrocinar a
exibição de animes, afinal todos são violentos e vão contra os valores
familiares. Ao menos é o que os departamentos de marketing e as agências
publicitárias aprenderam assistindo TV, pois aqui as distribuidoras só
trazem shōnen com lutas ou mahō shōjo que têm personagens com
sexualidade duvidosa.
Nenhuma empresa vai querer atrelar sua marca com um programa que pode
ir contra a “moral e os bons costumes” da família brasileira.
Censura, classificação indicativa e o politicamente correto
Os dias de hoje são outros. Não é mais possível exibir um personagem
arrancando uma orelha do inimigo em pleno dia. O controle do que é
exibido na TV é maior, ainda mais se tratando de um programa infantil.
Não podemos nos esquecer das fortes multas impostas pelo governo
brasileiro caso a programação fuja dos horários previstos pela
classificação indicativa, podendo inclusive, em caso de novo
descumprimento, o canal perder a concessão.
A mesma situação tem acontecido em outros países, principalmente nos
do continente americano. Não é sem motivos que os animes já chegam
editados, pois possibilita uma maior chance de os canais terem interesse
em adquirir, mas obviamente perdemos muito da história assim.
Enquanto isso, os desenhos do Cartoon Network, da Disney e da Nickelodeon não sofrem nada disso, pois desde o inicio foram produzidos dentro do conceito de programação infantil para nós ocidentais.
Restrição comercial e menor perspectiva de lucro
Novamente o governo brasileiro colocando o dedo para “atrapalhar” a
vida dos blocos infantis na TV aberta. Depois de impedir que desenhos
violentos influenciem negativamente as crianças, agora irá protegê-las
contra os comerciais indesejados.
Se já era difícil conseguir patrocínio para exibir animes, imagine
agora. Somando a repulsa de muitas empresas contra os animes,com o menor
leque de anunciantes, a situação piora. Canais como Globo, SBT e Band não são feitos para caridade e querem lucro.
O exemplo
Sabendo
dos fatos acima, tomemos um exemplo. Sou dona de uma emissora de TV e
tenho horário na minha grade de programação para apenas uma série, em
que devo escolher entre:
Justiça Jovem, uma animação que tem todos os ingredientes para dar certo. É produzida pela Warner, é baseada em personagens que estão na mídia e é praticamente uma continuação do desenho de sucesso Liga da Justiça, ao menos para o telespectador leigo.
Os Cavaleiros do Zodíaco, um anime conhecido pelo
público brasileiro e que já gerou grande audiência no passado. Porém,
vou ter dificuldade em conseguir anunciantes e ainda vou ter que editar
todos os episódios para poder ganhar classificação livre. Para “ajudar”,
os fãs não gastam um centavo com produtos, que poderiam
patrocinar a exibição, e ainda vão reclamar de qualquer edição que possa
viabilizar o projeto.
O resultado? Escolho nenhum dos dois, acabo com o bloco infantil do
meu canal e crio um novo programa de variedades, onde consigo vender com
maior facilidade minhas cotas de patrocínio com uma atração de baixo
orçamento. E viva o capitalismo!
Fonte : ANMTV
Fonte : ANMTV